sábado, 22 de agosto de 2009


Vimo-nos todos presos. Entreolhávamos. Nunca me senti tão incapaz. E o desespero era iminente. Não havia saída. A única escapatória que parecia possível, bem ali ao lado, era ilegal. O sangue corria, incitando-me. E, olhando para eles, via que a tentação não era exclusiva. Disfarçávamos. A vontade de desistir só aumentava. Mas meu corpo, meus impulsos, quedavam-se inertes. Entregar-me pareceu mais razoável. O dispêndio de energia, àquela altura, seria bem menor, se eu fosse até o fim. E assim o fiz. Rendida, ali permaneci. Permanecemos, por horas. Cada pequeno movimento reiniciava o ciclo de espera, de angústia. Numa tentativa desesperada de me distrair, comecei a observar os trejeitos alheios. Mãos na testa, no nariz, suspiros. Um deles teve o privilégio de se levantar, e se pôs a lavar as mãos. Me veio a ânsia de fazer o mesmo. Mas não pude, pois nem água para beber eu tinha. Recomecei a observar, as pessoas, a respiração, os segundos. E então, dei-me conta. Aqueles pequenos movimentos de antes, começaram a se tornar significativos. O espaço entre nós era maior. E a esperança de finalmente me ver livre, enchia-me os olhos. Movimento, finalmente! De pouco em pouco, aquilo tornava-se menos sufocante. E então, depois de longas horas, a gaiola parecia estar aberta. Aquele gosto, o da liberdade, nunca foi tão doce. Agora eu já poderia até desistir, tinha condições para isso. Mas eu segui em frente. De vidros abertos, coloquei um som agradável, e segui. Rumo ao Fórum Central, para dar início ao meu dia de trabalho.

Um comentário:

Bru Rippe disse...

Nunca vi descreverem um congestionamento tão bem, com tantos detalhes precisos!! ta cada vez melhor esse blog...
baccio!